59% sobrevivem e carregam marcas para toda a vida
Nos últimos três anos, em Mato Grosso, 324 mulheres foram vítimas do último grau da violência: a contra a vida. Destas, 41% não conseguiram sobreviver e tornaram-se estatísticas do feminicídio. Outras 59% convivem com as marcas para a vida toda, no corpo e no emocional, do feminicídio tentado. Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) indicam que de janeiro a outubro deste ano 55 mulheres quase foram mortas, na maioria, pelos companheiros. No mesmo período do ano passado, foram 48 registros. Considerando os últimos três anos, 191 conseguiram se salvar do feminicídio. No mesmo período, 133 tiveram as vidas ceifadas. De janeiro a outubro deste ano foram 40 vítimas de feminicídio. Em todo ano de 2023 foram 46 e, em 2022, foram 47.
J.B.M, 34 anos, é uma das que sobreviveram para contar a história de superação do ciclo da violência. Foram quase 10 anos de um relacionamento que deixou cicatrizes no corpo e na “alma”. A manicure, mãe de dois filhos, de 3 e 7 anos, mudou de cidade para se sentir mais segura e estar mais longe do agressor que, atualmente, está preso. A marca das três facadas que levou na região do peito e no braço permanecem.
Conta que tudo começou com xingamentos e empurrões. Depois, as agressões, que partiram do pai dos filhos de J.B.M, evoluíram para socos, chutes, até o último episódio, as facadas. Ela foi salva graças à intervenção dos vizinhos, que escutaram os gritos de socorro. “Muitas vezes eu sofri calada, por medo, pensando o que seria dos meus filhos e até com a esperança de que ele mudaria. Por mais que eu tente esquecer, nada apaga tudo que passei. Hoje dou graças a Deus por não terminar morta. Mas preferi mudar de cidade porque sei que ele não ficará preso eternamente”.
A dona de casa A.S., de 57 anos, diz que não entendia que estava num ciclo de violência e por vezes chegou a se sentir “merecedora” das agressões. Do casamento de 25 anos, que no início parecia um conto de fadas, quase foi morta a tiros. A.S. conta que as agressões aconteciam, na maior parte, motivadas por ciúmes ou com o pretexto de que o excompanheiro estaria sob efeito de álcool. No outro dia, o pedido de desculpa e a promessa de que “nunca mais iria acontecer” fazia ela tentar outra vez e investir no casamento com o pai dos três filhos.
“Eu tinha medo de pedir ajuda, do que as pessoas iriam falar de mim, de não ter como me manter financeiramente. Imaginava, como posso mandar para cadeia o pai dos meus filho? Foi preciso eu quase morrer para perceber que a vítima era eu. Tomei dois tiros, estou aqui para contar a minha história, mas quantas mulheres não tiveram a mesma sorte que eu. Clamo para que todas que forem vítimas denunciem, busquem ajuda, sei que é difícil. Mas esse primeiro passo é importante para se libertar e, enfim, viver de verdade”.
Fonte: www.gazetadigital.com.br
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